segunda-feira, 28 de março de 2011

Entrevista à Sra. Zulmira

           Como seria a Escola sem os nossos queridos auxiliares (novos técnicos operacionais)?
Nem conseguimos imaginar…

A funcionária mais antiga da EBSC

• Nome:
Zulmira Lopes

• Idade:
69 anos.

• Profissão:
Assistente técnica

• Onde vive:
Fajã Grande – Calheta



• Já teve outra profissão antes de vir trabalhar para a escola? Qual?
            Aquecer o forno para fazer bolos para baptizados e casamentos. Tive outra, dei cursos de bordados e costura.

• O que a motivou a vir trabalhar para a escola?
            O que me motivou (ainda agora estive a dizer à Fátima) a escola foi a melhor coisa que eu tive, que gosto e que vou para casa com muita saudade. Mas tenho de ir porque vou fazer setenta anos e em poucos meses vou-me embora. Mas nunca me recusei a nada, fiz sempre tudo, até já dei aulas de trabalhos oficinais quando faltava a professora. Ia para lá entretê-las e ensiná-las já que algumas nem sabiam pegar numa agulha, quando era no tempo de fazer os bordados e as malhas, mas gosto de tudo e faço tudo por gostar do meu trabalho e digo sempre “Eu não devo ao Estado, o Estado é que me deve”.

• Há quantos anos é que trabalha na escola?
          31 anos.

• Gosta da função que desempenha?
          Gosto sim.

• Dentro da escola, quais foram as funções que já desempenhou?
          Primeiro era tomar conta dos alunos, varrer as salas, a seguir fui para a cozinha. A Sra. Aurora era cozinheira nessa altura, teve de ir para a Terceira e assim fui para a cozinha, depois, já estive no ginásio, na fotocopiadora, nos livros de ponto. Eu já nem sei, já fiz de tudo dentro da escola, nunca me recusei, porque era tudo serviço da escola, é tudo serviço que compete a nós.

• E qual a função que mais gostou?
          De tudo, gosto de tudo, gosto de conviver, embora não me aceitem muitas vezes. Os alunos podem dizer que sou uma velha chata, que é só refilar, mas é porque gosto deles e do seu bem-estar.

• Há alguma situação engraçada que tenha acontecido na escola que queira partilhar connosco?
          Na minha altura quando a gente vinha para aqui éramos como uma família. A escola era pequena e a gente tinha sempre um truque qualquer, não havia a abundância que há hoje. Quando eu ia para o Jardim, trazíamos coisas de casa, uma trazia farinha, outra trazia o leite, outro trazia o açúcar, e ajudávamos uns aos outros, e eu ia ao ensaio da capela mais a Flora e vínhamos trabalhar à noite outra vez, não era para ganhar mais, era para ajudar a colega. Não é como hoje que ninguém quer ajudar um ao outro, tem de ter tudo escrito no papel, para dizer o que tem de fazer, aquilo e aquele outro. Naquela época não tinha e a gente ia fazer o serviço e era quarenta e cinco horas que tínhamos semanais e não trinta e cinco.

• O que acha da escola de hoje comparada com a de há vinte anos atrás?
          Totalmente diferente, começando pelos alunos. Os alunos eram muito aplicados, nos estudos, e nas horas vagas não iam para o chuto, sentavam-se ali as meninas a fazer malhas, ponto de cruz e os seus trabalhinhos, sentados no polivalente. Agora querem é estar no bem bom.

• O que melhorou na escola nos últimos anos?
           Melhorou muita coisa, está completamente diferente, só fala mal quem é de má-língua.
Vocês tiveram um tempo muito bom, se tivessem vindo há trinta e tal anos para cá como eu, iam ver as dificuldades que iam ter e agora têm tudo e não apreciam nada.
Acartar a água à mão para vocês beberem do chafariz do Sr. Padre, onde é agora as finanças, deitar nas casas de banho, acartar pelas escadas fora do jardim infantil para fazer a sopa.

• O que poderia vir a melhorar na escola?
           Vocês querem uma escola nova, mas contentem-se que eu quando fui à escola, era por cima da casa da professora, e nem sequer tínhamos casa de banho, nem pátios de recreio, a gente fazia tudo, era umas rodinhas, mas aprendia-se mais do que se aprende hoje. Eu saí da quarta classe a saber mais do que sabem hoje com o nono ano, se perguntarem quem foi o primeiro Rei de Portugal nem sequer sabem, e quem implantou a República não sabem.
Só se foi agora com a lufada de ar fresco, com os cem anos que vocês tenham sabido alguma coisa sobre a República senão, não sabem nada.

• Acha que existe alguma diferença entre os alunos actuais e os de há vinte anos atrás? Quais são as diferenças?
         Acho, que há abundância a mais, e a abundância torna as pessoas arrogantes e malcriadas. Eles eram uns miúdos que não tinham nada, quem é que hoje pegava numa maçã que está estragada de um lado, tira aquele pedacinho e come? Não, eles hoje em dia pegam numa maçã sã, dão-lhe uma dentada e deitam-na para o lixo. Nós quando estávamos no Jardim-de-infância tínhamos a fruta, toda contadinha, não havia ali para estragar, o que estava estragado, a gente tirava aqueles pedacinhos, metia na dispensa e eles no intervalo depois das aulas vinham lá pedir-nos. Eles iam partir pão era de fatia não havia papo-secos nessa altura, eles vinham ajudar a partir o pão para levar uma beirinha de pão, porque não havia bar, não havia nada, e não queriam passar fominha.

• Como pensa que será a escola no futuro?
          Para haver uma escola boa isto tem de mudar muito, começando por vocês que estão a fazer a entrevista, porque vocês são já um ponto.

• A seguir a si quem é o/a funcionário/a mais antigo/a da escola?
          O Paulino entrou uns meses antes de mim, a Celestina e a Gertrudes, a Mercês, a Maria Ângela.
• Tem algum conselho para dar aos alunos da escola?
          Respeitem os professores, porque eles já têm o seu curso e vocês é que precisam deles agora, e o respeito fica sempre bem. Respeitar os professores, embora não gostem da disciplina agarrem-se e vão ver que aquilo que não gostavam e que se agarraram é onde vão ter melhor nota. Sei isso por experiência.

Tomem nota!

                                                                                                           
      (Dina Sousa, Hugo Valente e Marina Relva)

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