Perante a dificuldade de encontrar informações, sobre a nossa ilha, decidimos fazer uma investigação acerca dos principais marcos históricos, como o descobrimento, o povoamento, a sociedade São Jorgense de meados do século XVI a XVII.
Descoberta:
Os arquipélagos dos Açores e da Madeira e as Ilhas Canárias já apareciam assinalados nos mapas do século XVI e, portanto, já eram conhecidas dos navegadores ibéricos e italianos. Desta forma, alguns historiadores atribuem aos Portugueses uma (re)descoberta ou um reconhecimento oficial da Madeira e dos Açores.
Diogo Silves, em 1947, a mando do Infante D. Henrique, descobriu algumas ilhas do arquipélago dos Açores, que só seriam conhecidas, na sua totalidade, em 1952. Nesta altura os Açores eram completamente despovoados.
Povoamento:
É a partir da carta régia de 2 de Julho de 1439 que surgem as primeiras notícias, dignas de crédito, acerca do povoamento dos Açores. Através desta é que D. Henrique conseguiu licença para ocupar as ilhas já descobertas, entre as quais S. Jorge, onde foram lançadas ovelhas.
Aspectos geológicos, geográficos e climáticos:
Segundo consta no livro “A Ilha de São Jorge”, os Açores localizam-se na zona média do Atlântico Norte, entre os meridianos 25º e 31ºW e entre os paralelos 37º e 40º N. A meio deste arquipélago, ponto nevrálgico do globo terrestre nos aspectos geológico, geográfico e militar, situa-se S. Jorge, cuja superfície de 237,59 km² se alonga por cerca de 60 km.
Esta ilha comprida e estreita, cume de cordilheira emergindo do mar, resultou da acção de três complexos vulcânicos, Topo, Manadas e Rosais, embora estes dois últimos mais recentes se estremem do interior pela falha geológica da Ribeira Seca.
Assim, na direcção SE-NW, sucedem-se três acidentados planaltos com características bem diferenciadas cujas falhas mostram falésias gigantescas e abruptas na costa Norte, adoçando sensivelmente a Sul. O planalto oriental corresponde à parte mais antiga da ilha e apresenta uma crosta rugosa e inclinada a sul, aqui correndo algumas ribeiras de caudal permanente com origem na alta Serra do Topo. Mais elevados são os morros e picos que se erguem no planalto central, sobre a orla sul, ultrapassando em alguns casos os mil metros e descendo em extensa lomba até ao mar. O planalto ocidental constitui a parte de formação mais recente e os seus cones vulcânicos extintos raramente ultrapassam os quinhentos metros em terrenos pouco acidentados.
O solo jorgense é, predominantemente, formado por basaltos de composição diversa, aflorando em alguns locais alguns morros de tufo. Na parte geológica mais antiga, entre o Brejo do Cordeiro de Santo Antão, há barros de espessura variada, por vezes superior a 10 metros. Os flancos da ilha estão cobertos por escórias vulcânicas, que formam depósitos na Fajã de João Dias, na Fajã dos Cubres, na Fajã da Caldeira, na Fajã de São João, na Fajã do Além e na Fajã dos Vimes. Desde Velas a Manadas, na encosta sul, encontram-se superfícies cobertas por antigos rios de lava, os conhecidos “mistério”, resultantes das erupções de 1580 e 1808. As ladeiras do Monte do Trigo e junto ao farol de Rosais revestem-se aqui e ali de alguma pedra - pomes. Nos vales profundos, cavados pelas ribeiras, formaram-se algumas férteis leivas de depósitos aluvionares.
A latitude a que se encontra todo o arquipélago coloca-o na zona temperada, sendo a sua posição nitidamente oceânica, não sofrendo os efeitos directos das massas de ar continental como os outros arquipélagos atlânticos. Os ventos predominantes em todas as ilhas são de sudoeste, provocando chuvas intensas desde Outubro a Dezembro. De Janeiro a Março, o ar mais fresco proveniente de oeste, noroeste ou norte é causador também de precipitação abundante ou mesmo queda de neve nos picos mais altos ainda que muito esporadicamente. O aumento das sucessões anticiclónicas de altas pressões está na origem de recessão pluviométrica durante o período estival predominando então os ventos de NE. O relevo desempenha, no entanto, um papel muito importante na distribuição das chuvas e formação de nevoeiro em cada uma das ilhas. A precipitação aumenta natural e significativamente com a altitude. Em S. Jorge, os totais de pluviosidade são maiores nas vertentes mais extensas do centro da ilha. Surpreendentemente a Ponta do Topo beneficia também de chuva mais intensa do que a Ponta de Rosais.
O ambiente jorgense, sobremaneira articulado e acidentado, na sua morfologia, por força da actividade vulcânica e da contínua erosão, devida aos fenómenos atmosféricos, à hidrografia e ao bater do mar, forneceu, de imediato aos primeiros povoadores, as principais sugestões toponímicas. Determinantes também, para o estabelecimento dos nomes dos diversos lugares, foram a cobertura vegetal, a textura e coloração do solo, a forma da exploração agrícola e os diferentes cultivos, bem como os nomes dos mais importantes povoadores e a religiosidade.
A especificidade do solo vulcânico, as características deste clima instável, de Inverno pouco acentuado e retardado, a grande humidade, as chuvas abundantes mesmo no Verão e as variações térmicas de pequena amplitude, obrigaram à introdução de novos elementos na sabedoria tradicional dos primeiros povoadores que aqui se instalaram em meados de quatrocentos, provenientes do continente europeu. Todavia a adaptação foi rápida e cedo foram estabelecidos os períodos mais propícios às sementeiras, às podas, ao abate de árvores, às colheitas, às queimadas, à tosquia das ovelhas e à reprodução dos animais.
Sociedade:
No que diz respeito à sociedade de outrora, a comunidade São Jorgense inseria-se no modelo concelhio, reflectindo matizadamente a sociedade de Ordens, hierarquizada e corporativa em alto grau. A pirâmide era encimada pelos detentores dos poderes militar, administrativo, espiritual e económico: a pequena nobreza que controlava os mais prestigiados cargos e representava a sociedade envolvente, os clérigos que se assenhoravam dos segredos individuais, administrando os sacramentos e os grandes mercadores que emprestavam dinheiro e garantiam os movimentos de exportação e importação. No degrau imediato, situavam-se os lavradores abastados, os tabeliães e escrivães, eleitos amiúde para o desempenho de funções na gestão municipal. Depois, surgiam os artífices e pequenos rendeiros cuja fortuna depende acentuadamente dos sinais positivos ou negativos das conjunturas. Por último, a base alargada da pirâmide, aqueles que apenas dispunham da sua capacidade de trabalho, os serventes, os criados e até os escravos. Fora desta estrutura, deste mundo fechado, os marginais, foragidos às justiças e vagabundos alimentavam-se do que caçavam e roubavam.
Esta hierarquização social, fortemente estratificada, sobrepunha-se a uma outra divisão das comunidades, baseada na idade e no sexo: homens casados/solteiros, mulheres casadas/solteiras, com espaço de socialização diferenciados quer a nível do lar, quer da paróquia.
A mulher e a criança tinham um papel específico no seio desta sociedade.
Sistema político:
O sistema político adoptado foi a capitania - donatária. O rei concedia as ilhas a donatários que tinham por obrigação incentivar a exploração deste.
Os capitães - donatários usufruíam de larga jurisdição civil e criminal, tendo também em sua posse inúmeros privilégios. Os donatários criam nas ilhas os cargos de capitães, dividindo-as em capitanias.
As aldeias, as paróquias e as vilas, formadas em S. Jorge, apresentavam, em meados de quinhentos, características marcantemente rurais, apoiadas numa grande estabilidade, que mantiveram até finais de seiscentos. A maioria dos jovens de cada geração procurava cônjuge na sua comunidade ou na vizinhança e era raro os que saíam deste espaço ou aqui chegavam. No entanto, deve considerar-se que as ligações matrimoniais entre aristocracias jorgenses, faialenses, graciosenses e terceirenses proporcionavam alguma mobilidade. Esta mobilidade acentua-se com a partida de marítimos para a faina piscatória longínqua e a chegada de artífices e trabalhadores sazonais.
No seio destas comunidades existia a nível concelhio, uma nítida hierarquização social, assente ainda nas bipartições, segundo o sexo e a idade, homens, mulheres e adultos/jovens.
Administração:
A administração da ilha de S. Jorge correspondia a uma estrutura concelhia, ou seja, o representante era o capitão – donatário que juntamente com a Coroa manifestavam-se localmente, com evidência, no levantamento dos dízimos e outras imposições fiscais, no desbloqueio de verbas para algumas obras públicas e na moderação dos outros órgãos.
Os corregedores, provedores da fazenda e os almoxarifes eram os seus principais agentes. Esporadicamente, em ocasiões especiais, quando a defesa do território ou a ordem eram postas em causa o rei podia enviar um delegado seu com atribuições especiais.
O poder senhorial do capitão – donatário, também distante, manifestava-se na cobrança da redizima e outras rendas e no exercício da jurisdição intermédia, no âmbito das questões civis.
Economia:
Agricultura:
A prática da agricultura em S. Jorge durante o século XVI e XVII iniciou-se com o arroteamento das superfícies cultiváveis.
Adaptou-se os terrenos ao cultivo do trigo, da vinha, à produção de plantas tintureiras como o pastel e a urzela (estes dois últimos produtos eram exportados para a Flandres). Também se desenvolveu a pesca, as manufacturas, o comércio, a caça, a criação de gado, a horticultura e a arboricultura.
Epidemias:
Mais tarde no século XVIII registaram-se alguns surtos epidémicos. Excepcionalmente, identificamos o desenvolvimento de singulares enfermidades, sobretudo, a lepra, sífilis, a peste, a varíola, a tuberculose e a epilepsia.
No decorrer dos decénios de 1740, 1750 e 1760, registou- se a propagação de muitas infecções em todo o arquipélago.
A sífilis, vulgarmente conhecida por mal gálico, alastrou-se também por todas as ilhas favorecida pela facilidade de contágio, resultante da prática da prostituição.
A propagação destas doenças deveu-se, principalmente aos agentes sanitários, às fomes e à precariedade da higiene, mas também à adversidade do clima que constituiu um factor determinante. No campo da higiene ressaltava a contaminação das águas de abastecimento público, o facto de se assistir à putrefacção de baleias nas costas insulares e também o consumo de carne de animais doentes.
Estas problemáticas ocorridas no campo da saúde explicavam-se através da carência de técnicos de saúde e a ineficácia dos curativos. A este nível tomaram algumas medidas de prevenção, por parte da administração local, que actuou no sentido de inspeccionar todas as embarcações, de modo, a reduzir os contágios. Também nesta altura verificou-se a implementação de uma política de sanidade e de combate à imundice, que favoreceu a disseminação de doenças. Procederam ao escoamento e limpeza das águas, construção de um sistema de drenagem, à obrigatoriedade de manter o livre curso da água, à verificação da qualidade da água dos poços e chafarizes, através da progressiva delimitação e de espaços para lavagem de roupa, alagamento do linho e alimentação do gado. A par destas medidas de prevenção, houve uma averiguação do cumprimento destes preceitos sanitários. A escolha deste cargo era normalmente, atribuída a olheiros que eram propositadamente nomeados para a limpeza de ribeiras, fontes, levadas e poços. Os infractores eram penalizados.
Actualidade:
Posto um pouco de lado a história, vamos falar do presente e daquilo que temos de melhor.
Actualmente nesta ilha podemos encontrar uma variedade imensa. Vale a pena conhecer as fantásticas paisagens naturais e o património humano e arquitectónico desta magnifica Ilha, rodeada pelo vasto Oceano Atlântico, de geografia acidentada que propicia as deliciosas Fajãs, que tanto enriqueceu a paisagem.
As localidades são maioritariamente rurais, de arquitectura típica, de alvenaria e basalto, com influências da região norte do continente, mas também Espanholas e da Flandres.
A indústria Baleeira teve também forte importância nesta Ilha, como nas restantes do arquipélago, sobretudo em finais do século XIX e inícios do século XX, sendo importante fonte de rendimento um pouco por toda a ilha. Hoje em dia, na continuação desta tradição Baleeira, existem diversas empresas que promovem a muito apreciada observação de Cetáceos, permitindo aprazíveis monumentos de lazer em pleno mar, contemplação de contacto com a natureza.
Terra de tradição com solos férteis e pastagens verdejantes, encontra-se uma gastronomia típica, que reúne pratos únicos com a melhor carne, peixe, marisco, vegetais e também o Queijo de São Jorge e, claro, os doces conventuais. Muito afamados são os pratos confeccionados com amêijoas, sendo este o único local do arquipélago onde estas habitam.
No artesanato, reinam as peças elaboradas nos tradicionais teares com as chamadas “colchas de ponto alto”, entre outras. Também merecem destaque outras peças feitas de materiais locais, seguindo técnicas ancestrais.
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